Conflito entre Israel e Irã pode elevar preços de combustíveis e impactar economia paraense

Conflito entre Israel e Irã pode elevar preços de combustíveis e impactar economia paraense

A escalada das tensões entre Israel e Irã provocou instabilidade no mercado internacional de petróleo, com reflexos que já começam a ser sentidos no Brasil, especialmente no Pará. A alta no preço do barril do petróleo e a valorização do dólar criam um cenário preocupante, com impactos que vão além das bombas de combustíveis, atingindo o transporte, os alimentos e a inflação. Para as famílias paraenses, em especial as de baixa renda, os próximos meses podem ser desafiadores caso o conflito se agrave.


Efeito global com impacto local
Desde o início do conflito, o preço do barril do petróleo tipo Brent aumentou cerca de US$ 10 no mercado internacional. Apesar de o Irã não estar entre os maiores produtores globais, sua localização estratégica no Estreito de Ormuz, uma importante rota para o transporte de petróleo, eleva o clima de incerteza, segundo o presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Roberto Ardenghy. “Qualquer instabilidade na região funciona como um gatilho imediato para a alta dos preços do petróleo”, explica.


Para o economista Nélio Bordalo Filho, o impacto no Brasil é ampliado pela alta do dólar, uma vez que o petróleo é negociado na moeda americana. “Com o real desvalorizado, o custo da importação aumenta, agravando a pressão sobre os preços internos de combustíveis e produtos derivados de petróleo”, avalia.


Petrobras tenta segurar, mas por quanto tempo?

Desde 2023, a Petrobras opera com uma política de preços que leva em consideração custos internos, em vez de aplicar automaticamente o Preço de Paridade de Importação (PPI). Embora essa estratégia tenha retardado o repasse da alta internacional aos consumidores, especialistas alertam que a estatal pode não sustentar esses preços por muito tempo, especialmente diante de uma valorização contínua do petróleo.
“Nem todo o combustível utilizado no Brasil vem da Petrobras. Refinarias privadas já estão repassando os aumentos ao mercado. O preço está subindo aos poucos, mas inevitavelmente chegará ao consumidor”, afirma Pietro Gasparetto, representante do Sindicombustíveis Pará.


A vida do consumidor paraense
No Pará, os reflexos estão sendo sentidos. O preço da gasolina já supera, em média, os R$ 6,30, e o etanol, antes visto como uma alternativa mais acessível, agora beira os R$ 5. Segundo o engenheiro mecânico Marcelo Mendes, que atua no setor petroquímico, esses valores podem subir ainda mais nas próximas semanas.


O impacto vai além dos combustíveis. O diesel, insumo essencial para o transporte de cargas, pode encarecer alimentos e outros produtos consumidos no estado, conforme explica Bordalo. “Mais de 60% das mercadorias no Brasil são transportadas por rodovias. É inevitável que os custos de frete sejam repassados, principalmente em itens perecíveis, como frutas e hortaliças, ou itens industrializados que dependem de plástico e petróleo em sua cadeia produtiva.”


Inflação e o efeito cascata na economia
A alta no diesel e nos combustíveis, combinada à valorização do dólar, impacta diretamente a inflação. Os preços mais altos pressionam toda a cadeia produtiva, o que pode levar o Banco Central a elevar a taxa básica de juros para conter os impactos inflacionários. Isso encarece o crédito tanto para empresas quanto para consumidores.


“O aumento nos juros dificulta financiamentos para empresas, reduzindo sua capacidade de investimento e repasse de estoques. Para o consumidor, empréstimos e financiamentos também ficam mais caros, diminuindo o poder de consumo”, explica Bordalo.


Exportações paraenses também ameaçadas

A crise também afeta o comércio exterior. O Pará tem forte relação comercial com o Oriente Médio, especialmente no setor de exportação de gado vivo para países como o Líbano. Mário Tito, professor de Relações Internacionais da UFPA, alerta que um conflito prolongado pode interferir nas rotas comerciais e prejudicar a balança comercial paraense.


“Os impactos nas exportações não devem ser subestimados. Qualquer instabilidade na região pode afetar negativamente parceiros comerciais do estado, especialmente em um momento de maior incerteza geopolítica global”, ressalta.


Soluções ainda distantes
Embora o Brasil seja autossuficiente na exploração de petróleo bruto, grande parte de suas refinarias não é equipada para processar o petróleo pesado extraído no país. Por isso, o Brasil ainda precisa importar petróleo leve de países como a Arábia Saudita para refinar.
Essa dependência foi destacada por Marcelo Mendes, que trabalha no setor petroquímico. “A falta de capacidade tecnológica nas refinarias brasileiras nos torna vulneráveis em situações de crise global. Enquanto não investirmos em modernização, ficaremos suscetíveis aos efeitos de conflitos externos no mercado de energia.”


O que esperar nas próximas semanas

Especialistas projetam que o momento atual pode trazer uma alta generalizada nos preços de combustíveis e produtos básicos, afetando toda a economia paraense. Veja o que está por vir:

Combustíveis mais caros: Gasolina e diesel terão seus preços reajustados em até 20 dias.
Fretes encarecidos: A alta do diesel afetará o transporte de mercadorias, especialmente em um estado com grande dependência de importação como o Pará.
Alimentos mais caros: Produtos perecíveis, como frutas e hortaliças, podem subir até 15%.
Inflação e juros: A economia sofrerá pressão inflacionária, o que pode levar ao aumento da taxa de juros.
Impactos no comércio exterior: O conflito pode prejudicar o fluxo de exportações para parceiros no Oriente Médio.

Com o cenário internacional incerto e o conflito sem previsão de término, os desafios para o Brasil e o Pará nos próximos meses devem exigir atenção redobrada tanto de governos quanto da população.

Conflito entre Israel e Irã pode elevar preços de combustíveis e impactar economia paraense
A escalada das tensões entre Israel e Irã provocou instabilidade no mercado internacional de petróleo, com reflexos que já começam a ser sentidos no Brasil, especialmente no Pará. A alta no preço do barril do petróleo e a valorização do dólar criam um cenário preocupante, com impactos que vão além das bombas de combustíveis, atingindo o transporte, os alimentos e a inflação. Para as famílias paraenses, em especial as de baixa renda, os próximos meses podem ser desafiadores caso o conflito se agrave.


Efeito global com impacto local
Desde o início do conflito, o preço do barril do petróleo tipo Brent aumentou cerca de US$ 10 no mercado internacional. Apesar de o Irã não estar entre os maiores produtores globais, sua localização estratégica no Estreito de Ormuz, uma importante rota para o transporte de petróleo, eleva o clima de incerteza, segundo o presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Roberto Ardenghy. “Qualquer instabilidade na região funciona como um gatilho imediato para a alta dos preços do petróleo”, explica.


Para o economista Nélio Bordalo Filho, o impacto no Brasil é ampliado pela alta do dólar, uma vez que o petróleo é negociado na moeda americana. “Com o real desvalorizado, o custo da importação aumenta, agravando a pressão sobre os preços internos de combustíveis e produtos derivados de petróleo”, avalia.
Petrobras tenta segurar, mas por quanto tempo?


Desde 2023, a Petrobras opera com uma política de preços que leva em consideração custos internos, em vez de aplicar automaticamente o Preço de Paridade de Importação (PPI). Embora essa estratégia tenha retardado o repasse da alta internacional aos consumidores, especialistas alertam que a estatal pode não sustentar esses preços por muito tempo, especialmente diante de uma valorização contínua do petróleo.
“Nem todo o combustível utilizado no Brasil vem da Petrobras. Refinarias privadas já estão repassando os aumentos ao mercado. O preço está subindo aos poucos, mas inevitavelmente chegará ao consumidor”, afirma Pietro Gasparetto, representante do Sindicombustíveis Pará.


A vida do consumidor paraense
No Pará, os reflexos estão sendo sentidos. O preço da gasolina já supera, em média, os R$ 6,30, e o etanol, antes visto como uma alternativa mais acessível, agora beira os R$ 5. Segundo o engenheiro mecânico Marcelo Mendes, que atua no setor petroquímico, esses valores podem subir ainda mais nas próximas semanas.


O impacto vai além dos combustíveis. O diesel, insumo essencial para o transporte de cargas, pode encarecer alimentos e outros produtos consumidos no estado, conforme explica Bordalo. “Mais de 60% das mercadorias no Brasil são transportadas por rodovias. É inevitável que os custos de frete sejam repassados, principalmente em itens perecíveis, como frutas e hortaliças, ou itens industrializados que dependem de plástico e petróleo em sua cadeia produtiva.”


Inflação e o efeito cascata na economia
A alta no diesel e nos combustíveis, combinada à valorização do dólar, impacta diretamente a inflação. Os preços mais altos pressionam toda a cadeia produtiva, o que pode levar o Banco Central a elevar a taxa básica de juros para conter os impactos inflacionários. Isso encarece o crédito tanto para empresas quanto para consumidores.


“O aumento nos juros dificulta financiamentos para empresas, reduzindo sua capacidade de investimento e repasse de estoques. Para o consumidor, empréstimos e financiamentos também ficam mais caros, diminuindo o poder de consumo”, explica Bordalo.


Exportações paraenses também ameaçadas

A crise também afeta o comércio exterior. O Pará tem forte relação comercial com o Oriente Médio, especialmente no setor de exportação de gado vivo para países como o Líbano. Mário Tito, professor de Relações Internacionais da UFPA, alerta que um conflito prolongado pode interferir nas rotas comerciais e prejudicar a balança comercial paraense.


“Os impactos nas exportações não devem ser subestimados. Qualquer instabilidade na região pode afetar negativamente parceiros comerciais do estado, especialmente em um momento de maior incerteza geopolítica global”, ressalta.


Soluções ainda distantes
Embora o Brasil seja autossuficiente na exploração de petróleo bruto, grande parte de suas refinarias não é equipada para processar o petróleo pesado extraído no país. Por isso, o Brasil ainda precisa importar petróleo leve de países como a Arábia Saudita para refinar.


Essa dependência foi destacada por Marcelo Mendes, que trabalha no setor petroquímico. “A falta de capacidade tecnológica nas refinarias brasileiras nos torna vulneráveis em situações de crise global. Enquanto não investirmos em modernização, ficaremos suscetíveis aos efeitos de conflitos externos no mercado de energia.”


O que esperar nas próximas semanas
Especialistas projetam que o momento atual pode trazer uma alta generalizada nos preços de combustíveis e produtos básicos, afetando toda a economia paraense. Veja o que está por vir:

Combustíveis mais caros: Gasolina e diesel terão seus preços reajustados em até 20 dias.
Fretes encarecidos: A alta do diesel afetará o transporte de mercadorias, especialmente em um estado com grande dependência de importação como o Pará.
Alimentos mais caros: Produtos perecíveis, como frutas e hortaliças, podem subir até 15%.
Inflação e juros: A economia sofrerá pressão inflacionária, o que pode levar ao aumento da taxa de juros.
Impactos no comércio exterior: O conflito pode prejudicar o fluxo de exportações para parceiros no Oriente Médio.

Com o cenário internacional incerto e o conflito sem previsão de término, os desafios para o Brasil e o Pará nos próximos meses devem exigir atenção redobrada tanto de governos quanto da população.

Fonte: Jornal Folha do Progresso.