Estratégias para proteger o agro brasileiro frente à crise no Oriente Médio

Estratégias para proteger o agro brasileiro frente à crise no Oriente Médio

Tensões geopolíticas aumentam os custos logísticos e energéticos no setor agropecuário, demandando planejamento e atenção às margens financeiras

Com a escalada das tensões no Oriente Médio, o agronegócio brasileiro começa a enfrentar os impactos diretos de um cenário global mais volátil, marcado por dificuldades logísticas, aumento nos preços de insumos e instabilidade nos mercados de commodities agrícolas. Segundo a consultoria Markestrat, os produtores devem adotar medidas estratégicas para proteger suas margens de lucro e mitigar os custos diante de um panorama cada vez mais desafiador.

A crise na região, que historicamente desempenha um papel central na distribuição de energia global, já reflete no custo de fretes marítimos e no preço de derivados de petróleo, ambos essenciais para a logística e produção agrícola. Neste contexto, especialistas recomendam planejamento financeiro, decisões comerciais escalonadas e o uso de ferramentas de proteção contra as oscilações de mercado, como contratos futuros e hedge cambial.

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Soja

Um dos principais produtos do agronegócio brasileiro, a soja tem sentido os efeitos de uma demanda internacional enfraquecida, apesar de uma leve recuperação recente nos contratos futuros. Os especialistas destacam que o produtor deve se concentrar em fixações de preços escalonadas, aproveitando eventuais picos de mercado, e monitorar atentamente o câmbio e os custos logísticos.

Outro aspecto crucial é o comportamento do óleo de soja, que registrou uma valorização de mais de 15% nos mercados internacionais. Essa alta contrasta com a queda nos preços do farelo e reforça a importância estratégica do óleo na composição do valor total do grão, principalmente diante de gargalos logísticos e uma demanda energética aquecida.

Milho

No mercado de milho, a combinação de uma safra de inverno favorável no Brasil e sinais positivos do clima nos Estados Unidos cria um cenário de bom abastecimento global. No entanto, a instabilidade logística gerada pela crise no Oriente Médio pode aumentar os custos de transporte marítimo, sobretudo no segundo semestre, tradicionalmente o período de maior fluxo global de mercadorias.

Os especialistas orientam os produtores a planejar cuidadosamente a janela de comercialização para evitar períodos de maior pressão nos preços e garantirem melhores condições na exportação.

Trigo

Apesar de os estoques globais de trigo se manterem elevados devido a boas safras nos Estados Unidos e na Rússia, a volatilidade no custo de transporte marítimo adiciona incertezas ao mercado. A orientação é monitorar as flutuações cambiais e aproveitar oportunidades de venda futura, principalmente para mitigar os riscos climáticos que ainda afetam as etapas iniciais da safra brasileira.

Algodão

O algodão vive um momento de preços pressionados, mesmo com a aproximação da colheita e a expectativa de safra recorde. Com o Oriente Médio sendo uma rota importante para o transporte marítimo global, qualquer gargalo logístico pode intensificar os desafios para os produtores brasileiros. Segundo os analistas, vale a pena considerar a antecipação de fixações futuras para minimizar riscos de custos elevados e imprevisibilidade nos mercados importadores.

Cana-de-açúcar

A relação entre oferta e demanda no mercado global de açúcar apresenta pressão sobre os preços, enquanto os custos de produção permanecem elevados. Por outro lado, o etanol surge como um fator positivo, ancorado na proposta dos Estados Unidos de aumentar a mistura de biocombustíveis. Nesse contexto, o uso de instrumentos de hedge é recomendado para mitigar os riscos de volatilidade nos preços e nos custos logísticos.

Café

A cafeicultura entra em 2025 com expectativas de boa safra, mas enfrenta um cenário complicado de preços em queda. Tanto o arábica quanto o robusta registraram recuos expressivos nas cotações futuras, colocando pressão sobre as margens dos produtores. A Markestrat recomenda a utilização de estratégias comerciais focadas na preservação de liquidez e proteção contra custos logísticos, que devem continuar elevados no contexto de crise geopolítica.

Pecuária

Entre os mercados analisados, a pecuária apresenta relativa estabilidade. Apesar de uma leve oscilação nos contratos futuros do boi gordo, o mercado físico mostra valorização, sustentado por uma demanda interna consistente. Mesmo assim, os pecuaristas devem monitorar os riscos indiretos gerados por problemas logísticos internacionais e seu impacto nas exportações de carne.

Planejamento: palavra-chave para atravessar os desafios

Diante de um cenário global de incertezas, a mensagem dos especialistas é clara: planejamento e gestão de riscos são indispensáveis para os produtores brasileiros garantirem competitividade e protegerem suas margens.

Além disso, o monitoramento constante do câmbio, do mercado de fretes e das oportunidades de venda antecipada pode ajudar a mitigar os impactos da crise no Oriente Médio e reduzir as vulnerabilidades do setor agropecuário.

Com o agronegócio desempenhando um papel estratégico na economia brasileira e global, adaptar-se rapidamente a este novo cenário geopolítico será essencial para minimizar prejuízos e aproveitar as oportunidades que podem surgir em meio à crise.

Fonte: Agro Estadão