Em um gesto carregado de significado ambiental e cultural, a pajé marajoara Zeneida Lima, de 90 anos, tornou-se a primeira cidadã a adquirir uma Cota de Proteção Ambiental (CPA) na modalidade Não Compensatória no Pará. O feito pioneiro foi celebrado com emoção pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará (Ideflor-Bio), em cerimônia marcada pelo reconhecimento de Zeneida como “Amiga da Floresta”.
Pioneirismo e Espiritualidade
Fundadora do Instituto Caruanas do Marajó, Zeneida é referência nacional tanto pela promoção da cultura marajoara quanto pelo incansável ativismo em prol da natureza. Mesmo sem poder comparecer pessoalmente, foi representada pelo filho Rubens Amorim na entrega simbólica do certificado, realizada no Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho), em Belém.

O título concedido pelo Ideflor-Bio reconhece não apenas a adesão à nova política ambiental, mas também uma trajetória de vida dedicada à conservação e à valorização dos saberes tradicionais da Amazônia. “A natureza é a grande mãe, a origem e o fim de todas as coisas. Não podemos violentá-la, pois estaríamos ferindo a nós mesmos”, destacou Zeneida em mensagem poética, reforçando a necessidade da união entre comunidades tradicionais e instituições públicas para preservar o meio ambiente.
O Que São as CPAs?
Criadas pelo Governo do Pará por meio do decreto nº 4.613, as CPAs têm o objetivo de fortalecer as Unidades de Conservação estaduais. Pessoas físicas ou jurídicas, de qualquer região do Brasil, podem adquirir cotas — cada uma equivalente a um hectare de área protegida — tornando-se parceiras diretas na manutenção de espaços como o Parque Estadual do Utinga, contemplado pela iniciativa de Zeneida.

As CPAs se dividem em Compensatórias, voltadas à regularização de passivos ambientais de propriedades rurais, e Não Compensatórias — formato escolhido por Zeneida, destinado a doações de caráter voluntário e sem vínculo com obrigações legais, mas de enorme valor simbólico e ecológico. A participação é feita de modo inteiramente digital pelo site do Ideflor-Bio, e no caso das cotas Não Compensatórias, cada aquisição tem validade anual e pode ser renovada.
Exemplo que Inspira
Ao adquirir sua cota de R$ 60,00, Zeneida reforça a relevância de pequenas atitudes conscientes para o fortalecimento da política de proteção ambiental voluntária. Nilson Pinto, presidente do Ideflor-Bio, descreveu sua ação como um marco na trajetória do órgão. “O gesto carrega profundo simbolismo e mostra que a conservação começa com as escolhas cotidianas de cada cidadão. Esperamos que esse movimento inspire mais pessoas”.

Rubens Amorim, que também é secretário municipal de Meio Ambiente de Soure, destacou o caráter inspirador do encontro e da trajetória de sua mãe. Ele relatou que Zeneida, ao visitar o Ideflor-Bio, entoou canções tradicionais e compartilhou ensinamentos ancestrais, reafirmando seu compromisso espiritual e ético com a causa ambiental.
Uma Nova Cultura de Proteção Ambiental
Com a iniciativa, Zeneida Lima torna-se símbolo de uma cultura cidadã e solidária de defesa da Amazônia, mostrando que a conservação depende também das escolhas individuais. Seu exemplo incentiva a sociedade paraense a se engajar em práticas voluntárias, colaborando para a preservação do patrimônio natural coletivo.

A aquisição da CPA não compensatória representa, assim, mais do que um ato administrativo: é um verdadeiro chamado à consciência ambiental, com raízes profundas tanto na tradição quanto na esperança de um futuro mais sustentável.
Resumo:
Aos 90 anos, Zeneida Lima se tornou a primeira pessoa a adquirir uma Cota de Proteção Ambiental Não Compensatória no Pará, reforçando o papel do engajamento voluntário na preservação das florestas. O ato simbólico foi celebrado por instituições estaduais, marcando um novo capítulo na cultura de proteção ambiental cidadã.
Fonte: Agência Pará.