Ministro do STJ se declara suspeito após decisão que anulou afastamento do prefeito de Ananindeua, Daniel Santos

Ministro do STJ se declara suspeito após decisão que anulou afastamento do prefeito de Ananindeua, Daniel Santos

A crise política envolvendo o prefeito de Ananindeua, Daniel Santos (PSB), ganhou um novo capítulo com a declaração de suspeição feita pelo ministro Og Fernandes, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O magistrado havia decidido em 6 de agosto, por meio de uma liminar, anular o afastamento do prefeito que havia sido determinado pelo Tribunal de Justiça do Pará (TJPA), permitindo seu retorno ao cargo. Porém, poucos dias depois, o ministro se retirou do caso ao descobrir que sua esposa, a advogada Roberta Léocadie Caldas Marques Fernandes, atuava em outro processo em defesa do político no Supremo Tribunal Federal (STF).

Segundo comunicado oficial do STJ, o ministro reconheceu a situação e, ao ter conhecimento da atuação da esposa, declarou-se imediatamente suspeito. “Ato contínuo, averbou sua suspeição para atuar no feito, determinando a redistribuição”, informou a assessoria do tribunal. A nota esclareceu ainda que a advogada não realizou nenhum ato processual no STJ envolvendo o prefeito e que renunciou de forma formal ao mandato legalmente conferido. A redistribuição do caso colocou o ministro Reynaldo Soares da Fonseca, da Quinta Turma do STJ, como o novo relator do processo, autoridade agora responsável por confirmar ou revogar a decisão liminar anterior.

Decisão polêmica e medidas cautelares mantidas

A decisão inicial de Og Fernandes havia revogado o afastamento do prefeito, argumentando que a medida seria desproporcional. Contudo, o magistrado impôs restrições cautelares a Daniel Santos, como o bloqueio de bens, a proibição de saída do país e a manutenção das investigações conduzidas pelo Ministério Público do Estado do Pará (MPPA).

Em sua decisão, Fernandes destacou a natureza eleitoral do cargo ocupado por Daniel Santos, afirmando que “não há premência para o afastamento do cargo decorrente que é de eleição popular”. No entanto, tal posicionamento não encerra a discussão jurídica sobre o caso, já que a redistribuição do processo pode alterar os rumos da decisão.

A medida original do TJPA, tomada no dia 5 de agosto, foi baseada em um extenso relatório do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e teve como uma das principais motivações indícios de corrupção, superfaturamento de contratos públicos e fraudes em licitações realizadas pela administração municipal.

Investigações apontam esquema milionário de corrupção

Segundo o Ministério Público, Daniel Santos está no centro de um esquema supostamente organizado para desviar recursos da Prefeitura de Ananindeua. As fraudes envolveriam servidores municipais, empresários e representantes de pelo menos oito empresas que celebraram contratos superfaturados com o poder público.

De acordo com o MPPA, as licitações eram simuladas com cláusulas restritivas e ausência de uma concorrência legítima, favorecendo empresas previamente selecionadas. Em troca, essas empresas teriam realizado pagamentos ilegais para agentes públicos.

A investigação indica ainda que parte dos recursos desviados foi utilizada para adquirir bens como uma aeronave, um complexo rural e insumos agrícolas. Esses bens estariam registrados em nome de terceiros para ocultar o patrimônio do prefeito. Os contratos sob suspeita abrangem áreas estratégicas da administração pública, como obras de infraestrutura, fornecimento de medicamentos e serviços de engenharia, movimentando um volume estimado em dezenas de milhões de reais.

Impacto político e prejuízo à imagem

O caso surge em um momento estratégico para Daniel Santos, que é pré-candidato ao governo do Pará nas eleições de 2026. Até então, o prefeito vinha investindo em aparições públicas e ações de maior visibilidade política no segundo maior município do estado. As investigações e a crescente exposição do caso, no entanto, levantam dúvidas sobre a viabilidade de sua pretensão eleitoral.

Além de colocar em xeque sua futura candidatura, o episódio também gera desconforto para o Partido Socialista Brasileiro (PSB) no Pará, com impactos diretos na construção da imagem política da legenda no estado em um momento de reorganização para as eleições municipais e estaduais.

Próximos passos no STJ

Agora, com a redistribuição do caso para o ministro Reynaldo Soares da Fonseca, caberá à Quinta Turma do STJ avaliar as alegações que sustentaram a decisão liminar, além de analisar eventuais argumentos adicionais do Ministério Público. A nova relatoria poderá manter Daniel Santos no cargo enquanto as investigações continuam, ou determinar novamente seu afastamento.

Contexto judicial e preocupação popular

O afastamento inicial de Daniel Santos, decidido pelo TJPA, foi respaldado por um relatório que reúne mais de 300 páginas de evidências coletadas pelo MPPA. A gravidade das acusações, envolvendo desvios em áreas como obras públicas e saúde, aumenta a pressão social sobre o caso.

Para os moradores de Ananindeua, a situação revela uma preocupação com os impactos políticos e administrativos no município. Apesar de seu retorno ao cargo ser juridicamente permitido, as investigações continuam a pairar como uma sombra no exercício de sua gestão.

Com o julgamento ainda em andamento, tanto a Prefeitura de Ananindeua quanto seus representantes políticos enfrentam um cenário de expectativa para os desdobramentos judiciais e possíveis reversões. Enquanto isso, a gestão municipal segue sob os holofotes. O desfecho desse caso não só determinará o futuro da administração Daniel Santos, mas também poderá repercutir em toda a agenda política do estado do Pará.

Fonte: Dol