O processo de construção do Plano de Gestão da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Vitória de Souzel, no município de Senador José Porfírio, oeste do Pará, entrou em uma nova etapa com a forte participação das comunidades tradicionais. Sob a coordenação do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará (Ideflor-Bio), as atividades realizadas entre os meses de maio, junho e início de julho reforçam a prioridade na gestão compartilhada e no diálogo com os moradores que vivem na área da reserva e em seu entorno.

A iniciativa, conduzida pela Comissão do Plano de Manejo (Coplam) e pela Gerência Administrativa da Região do Xingu (GRX), incluiu reuniões com o Grupo de Governança da RDS, visitas de campo, aplicação de questionários às famílias residentes e a realização de cinco oficinas comunitárias nas comunidades de Croari, Vila Nova, Nossa Senhora de Aparecida, São Marcos e Tanequara. Essas ações fazem parte da etapa preparatória do Plano de Gestão, que busca levantar as realidades socioeconômicas e ambientais do território.
Participação comunitária como base para o futuro da reserva
De acordo com Kelly Nunes, engenheira agrônoma da GRX e integrante da Coplam, envolver os moradores da reserva no processo é essencial para o sucesso da iniciativa. “A participação das comunidades tradicionais é fundamental porque elas conhecem profundamente o território, suas dinâmicas e desafios. São eles que vivem a realidade desse espaço e têm os saberes necessários para auxiliar na construção de um plano que, de fato, atenda às suas necessidades”, explicou a técnica.

O objetivo central do Plano de Gestão é estruturar diretrizes para proteger a biodiversidade, ordenar o uso do território e valorizar a cultura local, enquanto promove alternativas sustentáveis para os povos que ali vivem. Além disso, ele será um instrumento importante para a implementação de políticas públicas na área.
Desafios e expectativas da população
Os encontros realizados em comunidades como Nossa Senhora de Aparecida e Croari trouxeram à tona questões sobre as mudanças nas atividades tradicionais, como a pesca e o extrativismo, além da busca por políticas que garantam melhorias nas condições de vida. Raimundo Martins, pescador aposentado e conselheiro da RDS, destacou a necessidade de alternativas para reverter a escassez de pescado e permitir a permanência das famílias no território.

Outra voz importante foi a do morador Donizethe Machado da Silva, também conselheiro da RDS, que compartilhou o desejo de que a criação da reserva traga resultados concretos. “Vivemos aqui, nossas famílias estão aqui, e votamos pela criação da RDS porque acreditamos no seu potencial. Agora, esperamos que o Plano de Gestão possa se traduzir em ações práticas que deem dignidade ao nosso povo”, afirmou Donizethe.
Construção participativa e ampla mobilização
O trabalho inicial realizado pelo Ideflor-Bio contempla a escuta ativa da população local, levantando informações detalhadas sobre os desafios e oportunidades relacionados à RDS Vitória de Souzel. Para o diretor de Gestão e Monitoramento de Unidades de Conservação do Ideflor-Bio, Ellivelton Carvalho, o Plano de Gestão deve ir além de um documento técnico. “Esse plano precisa refletir a realidade e os anseios das comunidades. Nosso papel é articular os saberes locais com as diretrizes legais para criar algo exequível e realmente participativo”, destacou.
O avanço no processo também inclui a mobilização para reforçar a participação de outros moradores. Durante as oficinas comunitárias, foram realizadas atividades que incentivam o diálogo e o compartilhamento de experiências, sempre com o compromisso de projetar soluções viáveis para o desenvolvimento sustentável da reserva.
Próximos passos
A etapa preparatória do Plano de Gestão segue em agosto, com novas visitas às comunidades e oficinas setoriais envolvendo representantes de órgãos públicos e da iniciativa privada. Entre as localidades que receberão atividades está o Tabuleiro do Embaubal, compondo um processo que busca contemplar diferentes perspectivas e respeitar as particularidades do território.
A expectativa é que o Plano de Gestão seja concluído ainda este ano e se torne um importante marco para o uso sustentável dos recursos naturais, proteção ambiental e a geração de oportunidades econômicas na RDS Vitória de Souzel. A aposta no protagonismo das comunidades reforça a visão de que a preservação da biodiversidade pode caminhar lado a lado com a valorização cultural e a melhoria da qualidade de vida dos povos tradicionais.
“Estamos contribuindo agora para garantir um futuro melhor, para que essa RDS não seja apenas um nome, mas uma verdadeira ferramenta de transformação para a nossa região”, concluiu Donizethe Machado da Silva, representando a voz de muitos habitantes da Reserva.
Fonte: Agêcia Pará