O estado do Pará tem se destacado em ações voltadas ao tratamento de fissuras labiopalatinas, uma das condições congênitas mais comuns no rosto humano. Entre 2024 e maio de 2025, foram realizadas 1.104 cirurgias reparadoras em unidades públicas de saúde, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). O trabalho contempla, além das cirurgias, ações de acompanhamento integral e conscientização, com serviços disponíveis através do Sistema Único de Saúde (SUS).
Muito além de uma questão estética, a condição – popularmente conhecida como “lábio leporino” – requer cuidados multidisciplinares que promovam não apenas a reabilitação física, mas também social e emocional dos pacientes. “No Brasil, estima-se que uma em cada 650 crianças nasça com fissuras labiopalatinas. É uma das malformações faciais mais frequentes”, explica Déborah Costa, fonoaudióloga e coordenadora do Serviço de Referência em Fissuras e Anomalias Crâniofaciais da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMP).
A rede de atendimento no Pará e a importância do acompanhamento
Desde 2018, a FSCMP, em Belém, é reconhecida como Serviço de Referência Estadual no atendimento a fissuras labiopalatinas. A unidade oferece suporte especializado por uma equipe multiprofissional composta por fonoaudiólogos, nutricionistas, psicólogos, dentistas, pediatras e outros especialistas, promovendo uma abordagem integral aos casos. Além disso, os hospitais regionais de Santarém, Marabá e Redenção colaboram nessa mesma missão, garantido acesso ao atendimento de média e alta complexidade em diversas regiões do estado.
De acordo com Déborah Costa, o processo terapêutico não se limita à intervenção cirúrgica. “Muito mais do que apenas corrigir a fissura, o tratamento envolve aspectos essenciais para a qualidade de vida do paciente, como a reabilitação funcional e estética, além de intervenções voltadas para a comunicação, alimentação, respiração e integração social. Muitas vezes, o acompanhamento se estende até a fase adulta”, pontua.
O acesso aos serviços começa nas unidades municipais de saúde, que fazem a regulação dos casos e encaminham os pacientes para atendimento em Belém ou nos outros hospitais regionais.
O passo a passo do tratamento
O plano de tratamento tem início cedo. As primeiras cirurgias geralmente são realizadas a partir do terceiro mês de vida da criança, dependendo de sua condição geral de saúde. A correção do palato ocorre, em média, entre os 12 e 18 meses. Esses procedimentos buscam não apenas restaurar a funcionalidade, mas oferecer à criança maiores chances de desenvolvimento pleno, desde a alimentação até a fala.

Embora a origem da fissura labiopalatina não seja completamente conhecida, especialistas apontam que fatores genéticos e ambientais, como má alimentação, uso de álcool, tabaco e medicamentos durante o início da gestação, podem contribuir para o surgimento da condição. Neste contexto, Déborah reforça a relevância da prevenção. “É essencial que mulheres em idade fértil recebam orientação médica, mantenham uma dieta equilibrada e façam uso adequado de suplementos vitamínicos. Esses cuidados podem reduzir significativamente os riscos de malformações.”
Histórias de superação
Por trás dos números, histórias emocionantes marcam o impacto desse trabalho. Uma delas é a da pequena Arthur, de 1 ano e 2 meses, diagnosticado ainda na gestação com fissura bilateral palatina. Sua mãe, Thayna Santos Agostinho, conta que recebeu atendimento desde o primeiro mês de vida do filho, na Santa Casa, em Belém. “A cirurgia do lábio foi em março e, desde então, ele evoluiu muito, especialmente na fala e na alimentação”, compartilha.

Outra mãe, Adielma Silva, de Barcarena, relata a experiência do filho Luiz Eduardo, cuja condição foi diagnosticada ainda no pré-natal. “A primeira cirurgia foi realizada em abril e já tivemos muitas melhoras. A segunda será quando ele completar 1 ano e 3 meses. O atendimento é excelente, e o suporte tem sido essencial para nós”, ressalta.
Um futuro com mais inclusão
O trabalho realizado pela rede pública do Pará reflete não apenas no bem-estar dos pacientes tratados, mas também na conscientização social sobre a importância de acolher e apoiar famílias que enfrentam essa realidade.

O acesso gratuito a tratamentos completos, desde a triagem inicial até a reabilitação, reforça o compromisso do estado com a inclusão e a promoção da saúde como um direito universal. Graças ao esforço das equipes de saúde e ao modelo integrado de atendimento, crianças como Arthur e Luiz Eduardo têm agora a chance de viver e se desenvolver de forma plena, superando as dificuldades impostas por essa condição.
Fonte: A Notícia Portal.